Regras práticas para contratos e recebimentos internacionais visando segurança fiscal
Faturar para clientes internacionais como MEI é cada vez mais comum entre freelancers e prestadores de serviços.
Neste guia prático, você vai entender como funcionam contratos, documentos fiscais, tributação e as principais formas de receber pagamentos do exterior, com orientações claras para reduzir riscos e atuar com segurança.
Por que vender para o exterior como MEI?
O mercado internacional oferece aumento de demanda, melhores preços e diversificação de clientes. Para muitos MEIs, vender fora do Brasil significa receber em dólar ou euro, melhorar receita e posicionamento.
Vantagens práticas:
- Possibilidade de cobrar em moeda forte;
- Maior alcance de clientes e nichos especializados;
- Valorização do portfólio e networking global;
- Redução do risco concentrado no mercado local.
Limites e regras do MEI que você precisa verificar
Antes de começar, confirme os limites e obrigações do MEI vigentes. O MEI tem um teto de faturamento anual e um conjunto específico de atividades permitidas. Esses valores e regras podem mudar — consulte a Receita Federal ou um contador.
Observações importantes:
- Se ultrapassar o limite de faturamento anual do MEI, será necessário migrar para outro regime (Simples Nacional como microempresa ou regime de lucro presumido).
- Nem todas as atividades podem ser enquadradas como MEI; verifique se seu CNAE é permitido.
- O MEI paga tributo fixo mensal (DAS) que integra INSS e, dependendo da atividade, ICMS ou ISS.
Passo a passo inicial para começar a faturar para clientes internacionais
Siga estes passos antes de fechar o primeiro contrato:
- Verifique se seu CNAE permite a atividade que será executada no exterior;
- Confirme o limite de faturamento do MEI atual e planeje cenários;
- Abra conta bancária formal em nome do CNPJ ou utilize serviços de pagamento que permitam transferência para conta pessoa jurídica;
- Prepare um contrato em idioma adequado (Português e, idealmente, inglês) com cláusulas claras sobre moeda, forma de pagamento, entrega e impostos;
- Defina como irá emitir nota fiscal para o serviço exportado (NFS-e), observando regras municipais;
- Consulte um contador para alinhar impostos e declaração anual do MEI.
Contratos internacionais: cláusulas essenciais para MEIs
Um contrato bem redigido reduz disputas e garante segurança para ambas as partes. Mesmo como MEI, use contrato escrito — ele é a principal defesa em casos de litígio ou fiscalização.
Cláusulas que não podem faltar
- Objeto do contrato: descreva claramente os serviços prestados e entregáveis;
- Prazo e cronograma: marcos, entregas parciais e prazo final;
- Valor e moeda: especifique moeda (USD, EUR, etc.), forma de correção e responsabilidade por taxas de câmbio;
- Forma de pagamento: transferência bancária internacional, PayPal, Stripe, Wise, carta de fatura (invoice); inclua instruções bancárias;
- Tributação e retenções: indique que o contratante não reterá tributo sem aviso prévio e que o MEI é responsável por sua tributação local, quando aplicável;
- Jurisdição e resolução de conflitos: escolha fórum ou arbitragem; prefira cláusula que evite custos judiciais desnecessários;
- Confidencialidade e propriedade intelectual: defina direitos sobre entregáveis, licenças e NDA, se necessário;
- Responsabilidades e garantias: limites de responsabilidade e garantias de correção;
- Condições de cancelamento e reembolso: como serão tratadas rescisões e valores proporcionais;
- Compliance e LGPD: se houver tratamento de dados pessoais, inclua cláusulas de proteção de dados e responsabilidades.
Modelos e idioma
Tenha o contrato em Português e em inglês (ou língua do cliente). Se houver diferenças entre versões, determine qual prevalece. Para contratos de valor maior, procure revisão jurídica.
Emitir nota fiscal e documentação para serviços exportados
Para fins fiscais, é essencial documentar as receitas do exterior. A nota fiscal é o principal documento.
Qual nota emitir quando o cliente é estrangeiro?
Se você presta serviços para clientes no exterior, em geral emite a NFS-e (nota fiscal de serviço eletrônica) do seu município, indicando que se trata de exportação de serviços. Os procedimentos variam por município, e algumas prefeituras exigem campos específicos ou justificativas.
Dicas práticas:
- Marque o serviço como “exportação de serviços” quando houver consumo no exterior;
- Inclua no campo descrição o número do contrato, data, endereço do cliente, moeda e valor recebido;
- Guarde contratos, comprovantes de pagamento e trocas de e-mail como evidência da prestação.
Comprovantes e documentação adicional
Mantenha organizado:
- Contrato assinado (versões em português e inglês quando aplicável);
- Invoice/recibo emitido ao cliente;
- Comprovante de remessa financeira (extrato bancário, comprovante de transferência de plataforma, recibo PayPal/Stripe/Wise);
- Notas fiscais eletrônicas emitidas (NFS-e);
- Declaração anual do MEI e livros/planilhas de controle de receitas.
Formas de receber do exterior: vantagens e cuidados
Existem várias maneiras seguras de receber do exterior. A escolha depende de custo, velocidade, praticidade e conformidade fiscal.
Opções comuns
- Transferência bancária internacional (SWIFT): direta para conta Pessoa Jurídica (CNPJ) ou conta pessoa física, geralmente com tarifas bancárias e spread cambial;
- Plataformas de pagamento (PayPal, Stripe, Payoneer): práticas para freelancers, com taxas de serviço e necessidade de conversão para BRL ao sacar;
- Contas internacionais e fintechs (Wise, Revolut): oferecem menores tarifas e taxas de câmbio mais competitivas; permitem contas multi-moeda;
- Recebimento via intermediários (marketplaces): quando você vende via marketplace internacional, siga regras da plataforma;
- Cartões e sistemas de pagamento por projeto: em plataformas freelance, a liberação do pagamento segue as regras da plataforma.
Conta em nome do CNPJ vs conta em nome pessoal
O ideal é receber em conta vinculada ao CNPJ sempre que possível. Isso facilita conciliação contábil, comprovação de receita e evita questionamentos em fiscalização. Se receber em conta pessoa física, guarde todos os comprovantes e documente a entrada como receita do CNPJ.
Câmbio e conversão
Ao entrar o recurso em moeda estrangeira, o banco converte para BRL. A Receita exige que a receita seja convertida para reais usando a taxa do dia da entrada. Serviços de câmbio e fintechs oferecem rotas alternativas com taxas melhores — compare custos.
Tributação: como funciona para MEIs que exportam serviços
A tributação do MEI é simplificada: o empreendedor paga um valor fixo mensal (DAS) que cobre INSS e, dependendo da atividade, ICMS ou ISS. Ainda assim, há pontos a observar ao faturar clientes internacionais.
ISS e exportação de serviços
Regra geral: serviços exportados podem ter tratamento específico de ISS. Em algumas situações, o município pode aplicar isenção do ISS sobre a exportação de serviços quando o consumo ocorre fora do país. No entanto, a aplicação depende da legislação municipal e da natureza do serviço.
Recomendação: confirme junto à prefeitura onde seu MEI está registrado como a NFS-e deve ser emitida e se há isenção ou alíquota aplicável.
PIS/COFINS e IR
Como MEI, você está no regime simplificado e não recolhe PIS/COFINS separadamente nem IRPJ via DARF como pessoa jurídica — os tributos são contemplados no DAS. Porém, a pessoa física que receber recursos no exterior deverá observar obrigações fiscais pessoais se houver incidência de imposto de renda sobre valores recebidos como pessoa física.
Declaração anual do MEI
Todo MEI deve enviar a declaração anual de faturamento (DASN-SIMEI ou versão atual equivalente) onde inclui as receitas do ano, inclusive as originadas no exterior. Não omita receitas: guarde comprovantes para justificar conversões e origem do recebimento.
Tributações retidas na fonte no exterior
Alguns países podem reter impostos na fonte ao contratar serviços de um prestador no exterior. Verifique com o cliente se existe retenção e peça documentação que comprove o valor líquido recebido e o imposto retido. Dependendo de acordos internacionais, pode haver tratados para evitar bitributação — consulte um contador para análise.
Contabilidade e organização financeira
Ter controles financeiros é essencial para quem faturar para clientes internacionais sendo MEI. Organização facilita declaração anual, comprovação de receitas e análise de rentabilidade.
Boas práticas de controle
- Mantenha planilha de receitas com data, cliente, moeda, valor bruto, valor convertido em BRL e taxa cambial usada;
- Classifique receitas por tipo (exportação de serviços, vendas locais, etc.);
- Armazene contratos, invoices e comprovantes digitais em pasta segura na nuvem;
- Registre custos e despesas relacionados ao serviço (plataformas, ferramentas, deslocamento) para análise financeira;
- Reconciliar entradas bancárias com notas fiscais emitidas mensalmente.
Conclusão
Faturar para clientes internacionais como MEI é possível e pode gerar novas oportunidades de crescimento, desde que o empreendedor siga corretamente as regras de contratos, tributação, emissão fiscal e recebimento do exterior.
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